Intolerância interrompe protesto pacífico de imigrantes no Porto — e revela feridas que Portugal ainda insiste em ignorar

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Porto, 23 de abril de 2025 — O que era para ser uma tarde de afirmação, de luta por dignidade e direitos, quase foi silenciado pelo velho fantasma da intolerância. Imigrantes reunidos no centro do Porto, em mais um protesto pacífico, foram surpreendidos por um ativista anti-imigração que tentou — literalmente — gritar mais alto que vozes que há anos lutam para serem ouvidas.

Com cartazes em mãos e gritos carregados de ódio, o homem interrompeu o ato com provocações xenófobas. Nada de novo, infelizmente. Em tempos em que o discurso de extrema-direita encontra espaço nas redes e nas ruas, manifestações como essa, que pedem nada mais que humanidade, tornaram-se alvos fáceis.

A reação da polícia foi rápida — interveio, afastou o provocador e conteve a tensão. Mas o problema não foi embora com ele. O verdadeiro desafio está em como o país lida com a crescente presença desses discursos de exclusão, que ganham terreno mesmo diante de histórias de luta, sobrevivência e contribuição real dos imigrantes para o tecido social português.

“Ele nos mandou de volta para os nossos países, como se estivéssemos aqui por escolha fácil, como se nossas vidas lá fossem melhores que o exílio”, relatou Ahmad, um refugiado sírio. É esse tipo de violência — simbólica e, por vezes, física — que muitos enfrentam diariamente, longe das câmeras, longe das manchetes.

Portugal tem orgulho de se ver como um país acolhedor, mas episódios como o de hoje colocam esse discurso à prova. A solidariedade não pode ser apenas discurso institucional; precisa ser prática cotidiana. E isso passa por ouvir quem vive na margem, por garantir que uma praça pública continue sendo espaço de resistência e não de intimidação.

A manifestação seguiu, com gritos por igualdade, regularização e respeito. Foi um recado claro: não basta apenas intervir na hora da confusão. É preciso intervir nas estruturas que ainda permitem que ódio e ignorância se sintam à vontade para tentar calar quem só quer viver em paz.

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