Trump joga com o tempo e a vantagem comercial, enquanto Meloni tenta ser a ponte entre EUA e Europa
Em meio à escalada de tensões comerciais globais, o presidente Donald Trump voltou a demonstrar confiança absoluta no seu jogo tarifário. Segundo ele, não há pressa para fechar acordos internacionais – afinal, as tarifas que impôs já estariam gerando lucros significativos para os Estados Unidos. “Estamos em vantagem”, garantiu, sugerindo que negociar com a União Europeia e parceiros como a China será, na verdade, mais simples do que muitos pensam.
Enquanto isso, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, desembarca nos EUA com uma missão delicada: aproximar Trump da Europa e conter os danos de uma possível guerra comercial entre os dois lados do Atlântico.
Ao recebê-la, Trump foi só elogios. Chamou Meloni de “uma das verdadeiras líderes mundiais” – um gesto diplomático, mas também estratégico. Ela é a primeira líder europeia a encontrá-lo pessoalmente desde que Trump anunciou e, em seguida, suspendeu provisoriamente uma tarifa de 20% sobre produtos europeus. A italiana, ideologicamente próxima de Trump em temas como imigração e valores tradicionais, é vista em Washington como uma possível interlocutora-chave com a UE.
90 dias, 90 acordos?
O governo Trump acredita que, durante a moratória de 90 dias imposta às tarifas europeias, seria possível concluir até 90 acordos comerciais. A meta é ambiciosa, mas o próprio Trump afastou qualquer ideia de pressa. “Acordos virão no tempo certo”, afirmou, sustentando que o apetite global pelo mercado americano coloca os EUA em posição de força.
Meloni, por sua vez, tem o apoio explícito da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com quem esteve em contato antes da viagem. A União Europeia quer preservar o que chama de “a relação comercial mais importante do mundo” – o comércio com os EUA movimenta anualmente 1,6 biliões de euros.
Pressão, guerra e política internacional
Apesar das afinidades, há pontos de atrito entre Trump e Meloni. A italiana apoia firmemente a Ucrânia desde a invasão russa em 2022, enquanto Trump adota uma posição mais ambígua sobre o conflito. Outro possível ponto de tensão será a pressão esperada de Trump para que a Itália aumente seus gastos com Defesa – atualmente em 1,49% do PIB, abaixo da meta de 2% estabelecida pela OTAN.
Especialistas acreditam que Meloni não tem margem para negociar grandes concessões, mas pode conseguir algo ainda mais valioso: entender quais são, de fato, os planos de Trump. “É uma missão delicada”, afirma Fabian Zuleeg, do Centro de Estudos de Política Europeia. “Mesmo sem um cargo formal nas negociações, o diálogo com Trump já é uma forma de negociação.”
Se Trump deseja usar Meloni para abrir caminho com a Europa, Meloni pode, por sua vez, se consolidar como a principal voz do continente em Washington. Uma aliança estratégica está em jogo – e o mundo observa cada movimento